Bitcoin o que é o “ouro digital” afinal

Bitcoin o que é o “ouro digital” afinal? A história do Bitcoin e seus mistérios; Blockchain, como funciona; a Era Digital e seus desafios.

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A história do Bitcoin é cheia de mistérios e até hoje ninguém sabe ao certo quem criou essa criptomoeda.

Em 31 de outubro de 2008, alguém ou um grupo de pessoas, com o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, escreveu um artigo chamado Bitcoin: a Peer-to-Peer Eletronic Cash System“.

Ou, interpretando exclusivamente para o Feed Atualidades: Bitcoin: um novo sistema de dinheiro eletrônico, sem intermediadores.

Vários jornais, como o The New Yorker, Fast Company e Newsweek investigaram a verdadeira identidade de Satoshi Nakamoto, mas até hoje não se sabe quem é ou quem são as pessoas por trás do projeto.

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Mas o que é o projeto Bitcoin exatamente?

Para entendermos a proposta do Satoshi Nakamoto, precisamos antes recaptular rapidamente as nossas  relações mais tradicionais com a criação de moedas ou do famigerado dinheiro: 

Há muitos anos atrás, tradicionalmente, se utilizavam como moedas, materiais que não fossem facilmente falsificados, como o caso das moedas-mercadoria: cacau, trigo, cevada, sal, etc.

Descobrimos ainda materiais que não tinham utilidades tão práticas no dia a dia quanto os citados acima, mas que eram muito raros e tornaram-se cada vez mais escassos conforme encontrados e minerados – que é o caso do ouro.

Ou seja, a dificuldade cada vez maior de encontrar ouro (assim como outros metais e pedras preciosas) é um dos principais fatores que faz com que esta moeda não perca o seu valor, não inflacione.

Um outro grande fator que faz com que uma moeda perca o seu valor ou inflacione é a sua falsificação/cópia ou fraude nos registros de posse e transação. Esse sempre foi um dos grandes problemas para administrar transações financeiras.

Contextualizando

Os chineses, por exemplo, no ano 105 d.C, após inventarem o papel, começaram a fazer recibos para registrar suas transações de posses.

Esse “papel moeda” passou a ser cada vez mais elaborado, com materiais mais exclusivos que podiam garantir que ninguém iria falsificá-los.

Veja sobre invenção do papel: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cai_Lun

Cópia ou fraude, na verdade, sempre foi um problema para administrar transações financeiras e, com a Era Digital, fica ainda mais difícil porque, assim como um arquivo de música, imagem/vídeo, texto – é muito mais fácil copiar informação.

Basta lembrarmos do fenômeno da Pirataria Digital para termos uma noção de como conteúdos digitais podem ser falsificados e distribuídos facilmente e em grande escala.

Ainda assim, através de grandes intermediadores, que são os casos dos bancos e corretoras financeiras, conseguimos colonizar o meio digital para realizarmos as nossas transações de bens financeiros e de consumo.

O uso do cartão de crédito, por exemplo, é uma forma de usar um mediador, que é a operadora do cartão, para garantir que a nossa transação é legítima, que temos os “fundos” para realizar a compra e que não estamos gastanto o mesmo dinheiro duas vezes, enquanto todo o mundo não teve tempo para descobrir que não havia fundos, na realidade.

Nessa história, essas entidades intermediadoras fazem o papel de árbitros dessas operações e vão garantir que não teve fradude.

Porém, essas mesmas entidades são passíveis de “quebra” ou falência, a depender da sua administração, o que pode diminuir a credibilidade desse sistema e levar a grandes crises econômicas, como aconteceu em 2008.


Leia sobre a crise econômica de 2008:
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2024/07/04/o-ano-em-que-o-mundo-quebrou-entenda-a-crise-financeira-de-2008.htm

De volta ao tema

Nesse contexto de desconfiança do sistema financeiro dos grandes intermediadores da Era Digital, moveram-se ideais que Satoshi Nakamoto utilizou para compartilhar a sua invenção revolucionária!

Em seu artigo, Nakamoto descreve como transações financeiras na internet ainda se baseavam em instituições financeiras que servem de intermediários de confiança para fazer essas transações reversíveis e sujeitas à fraude.

Além disso, ainda impedem a troca de valores muito pequenos o que pode inviabilizar muitas transações que podiam acontecer via internet, sem intermediadores.

Em seguida, apresenta a sua solução: um sistema baseado na criptografia, na codificação dos dados, para fazer transações que não precisam de um intermediário e que são praticamente irreverssíveis.

Esta ferramente revolucionária é o Blockchain, que combina soluções que já existiam na época, mas a forma como foram aplicadas para evitar o gasto duplo mudou tudo.

O que é o Blockchain?

Os próprios usuários desse sistema financeiro, que fazem transações financeiras dentro dele, podem até emprestar o seu computador a serviço do Blockchain.

Assim, cada computador vira um nó em uma rede que vai registrar todas as transações efetuadas, fazer as contas e manter o sistema funcionando sem uma entidade reguladora.

Essa cadeia de anotações que todo mundo participa e pode conferir, funciona como um Livro Razão de contabilidade público, eliminando a necessidade de um intermediador central que vai controlar e checar os valores que todo mundo tem.

Se um usuário emite uma ordem de compra ou venda, os outros usuários podem consultar os seus registros para saber se aquela ordem foi realmente efetuada.

Por exemplo:

Se um usuário declara que tem um valor X na sua conta, os outros podem, através dos registros de todas as transações de entrada e saída da conta do declarante, validarem ou não esta informação. O que vale é o consenso de mais da metade dos nós participantes.

E aí, para garantir que cada operação é única e que não pode ser falsificada, essa operação é codificada com duas chaves, dois códigos ou duas senhas que servem para encriptar uma transação:

Uma destas chaves é pública e equivale ao endereço da carteira ou da conta do usuário, que pode ser compartilhada.
A segunda chave é secreta e exclusiva, deve ser conhecida apenas pelo proprietário.

Com estas duas chaves, a transação é convertida em um arquivo de texto chamado Hash que é compartilhado com os nós da rede e é acrescentado ao Blockchain ou “Livro Razão” compartilhado por todos.

Sempre que isso acontece, cada computador cadastrado na rede vai fazer o cálculo matemático que garante que aquela transação é válida, conferindo que cada Bitcoin na rede é autêntico.

Simplificando:

Para efeitos didáticos, vamos chamar aqui o Hash de “bloquinho”.

Como dito acima, cada vez que realizamos uma transação em Bitcoin automaticamente enviamos nosso bloquinho para o Blockchain e toda a rede de computadores cadastrados faz o cáculo de prova de autencidade na rede.

Além disso, o nosso bloquinho é amarrado a todos os outros anteriores. E aí, é que está o grande artifício de segurança do sistema.

A essa altura você aí já deve ter se perguntado: um hacker não poderia facilmente acessar o Blockchain e alterá-lo ou destruí-lo?

Bem, para isso esse hacker teria que ter um poder computacional superior ao do Blockchain, por isso, ele teria literalmente uma “Missão Impossível” ou quase isso, porque tudo é possível, na realidade.

Como assim uma “Missão Impossível”?

Podemos imaginar o roteiro de um filme no qual um agente invade, na calada da noite, completamente despercebido pela segurança, o edifício central de uma rede de cartórios oficiais e tem acesso a um registro original, alterando

o mesmo de  forma imperceptível. Aquele documento mudaria e ponto.

Já se um hacker quiser forjar um Bitcoin ou alterar alguma transação, precisa alterar aquele registro em mais da metade dos nós da rede de computadores do Blockchain e todos os outros registros que estão “acorrentados” a ele, pois cada registro passa pelo grande cáculo que garante sua autenticidade.

Por isso, quem quiser se aventurar nesta missão, teria que ter um poder computacional absurdo para refazer todas as “provas de autenticidade” depois de alterar um único bloquinho. Boa sorte!

Quando falamos em poder computacional estamos falando em capacidade de processamento de dados.

Para fazer parte da rede de computadores do Blockchain é necessário que o usuário tenha um super-computador, com grande capacidade de processamento.

Esses computadores isoladamente consomem uma grande quantidade de energia elétrica, agora imaginemos todos esses computadores juntos.

O Blockchain é na verdade um monstro de várias cabeças, que consome uma quantidade gigante de energia.

A natureza finita do Bitcoin.

O Satoshi Nakamoto programou o Blockchain para criar 21 milhões de Bitcoins, o céu não é o limite.

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Não é por ser um pequeno pacote de informação digital que o Bitcoin possa ser gerado infinitamente.

A criptografia é o recurso que garante a segurança do sistema e isso gera um consumo enorme de energia elétrica. Daí, sua natureza ter um limite, pelo menos dentro da nossa capacidade de produção de energia atualmente e para os próximos anos.

Para se ter uma ideia, uma estimativa do Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge (CCAF) estimou, em fevereiro de 2021, que o consumo da Blockchain estava “acima do da Argentina (121 TWh), da Holanda (108,8 TWh) e dos Emirados Árabes Unidos (113,2 TWh) e chegando perto do consumo da Noruega (122,2 TWh), a partir de estimativas de consumo energético dos países em 2016.”

“Ao mesmo tempo, o levantamento estima que a eletricidade consumida por eletrodomésticos que ficam plugados e no modo inativo nos EUA seria suficiente para abastecer a rede inteira de bitcoins durante um ano inteiro.”

Leia artigo completo em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56019905

Por isso, Nakamoto programou a Blockchain para criar apenas 21 milhões de Bitcoins.
Os computadores da rede podem gerar novos blocos a cada 10 minutos em quantidade decrescente.

A partir do ano de 2019, 6.25 Bitcoins são gerados a cada 10 minutos e essa quantidade vai continuar caindo até o último bloco ser criado no ano de 2140.

Estas unidades de Bitcoins gerados ou “minerados”, como termo mais conhecido, ficam em propriedade dos usuários que têm computadores à serviço da Blockchain, recompensados por manter a rede precisa e autêntica e servindo também para cobrir os custos energéticos.

E aí com isso, a quantidade de Bitcoins vai ficando cada vez mais escassa, tendo um princípio praticamente oposto ao de moedas como o Dólar, que não tem um limite de produção.

Já ouviu falar em Lastreamento de uma moeda?

Até 1971, o Dólar tinha o seu valor lastreado pelo Ouro – para cada nota de um Dólar criada, o Tesouro Nacional Americano tinha que guardar uma quantidade de ouro equivalente a uma unidade de Dólar.

Depois disso, o Dólar passou a ser uma moeda fiduciária – que depende da confiança que as pessoas têm na Economia que as emite – nesse caso, a economia americana.

E quanto mais notas o Governo dos EUA imprime, menos elas valem. Para estimarmos essa diferença, um (1) Dólar em 1913, tinha um poder de compra equivalente a mais de vinte e sete (27) dólares em 2021.

Já o Bitcoin não pode ser criado mais rapidamente ou em quantidades maiores do que a sua programação estabelece, essa quantidade fixa tende a valer cada vez mais, assim como acontece com o Ouro, devido à sua escacez.

Como o Bitcoin ficou valioso?

Nos seus dois primeiros anos de vida, o Bitcoin era completamente “zuado”.
Em março de 2010, um usuário no Bitcoin fórum tentou vender 10 mil Bitcoins por 50 dólares e ninguém aceitou a proposta. Já no final de junho de 2021, cada Bitcoin valia quase 35 mil dólares.

Se o Bitcoin deu esse salto em pouco mais de uma década, após mais 4 anos, no momento em que essa matéria está sendo produzida, ele já chega a valer mais de 100 mil dólares.

O fato é que a quantiade de energia elétrica e de tempo gastos para se produzir uma unidade desta moeda, é enorme e cada vez maior à medida que mais compudadores começam a trabalhar nesta tarefa.

Ora, tempo e energia são, desde sempre, os recursos mais valiosos pelos quais lutamos para obter e estão literalmente embutidos em grande quantidade, dentro de cada unidade, tão única e escassa quanto irresistível à especulação da humanidade.

Vale ressaltar que todo esse valor atribuído ao Bitcoin vai totalmente de encontro com outros valores tão importantes para a humanidade.

Produzir esta moeda não é nada ecologiamente sustentável.

Já se sabe que há um limite de recursos energéticos e uma poluição e degradação enorme do nosso planeta para tal, mas isso é assunto para outro Post.

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